Apesar de ser o terceiro maior exportador do mundo, país é o oitavo principal destino do café brasileiro – duas em cada cinco xícaras servidas são do Brasil
Seja o turista, o visitante ou mesmo um morador local, quem entra em uma cafeteria nas ruas de Bogotá para tomar um legítimo café colombiano tem uma chance muito grande de receber uma xícara de café brasileiro. Na verdade, a cada cinco doses servidas na Colômbia, duas são preparadas com grãos produzidos e colhidos nas lavouras do Brasil.
O famoso café colombiano está ficando cada vez mais raro na Colômbia e para dar conta de atender sua demanda doméstica, o país tem elevado cada vez mais a necessidade de trazer grãos de outras origens. Neste ano, a produção colombiana de café deve ficar em 14,1 milhões de sacas. Desse total, 13,5 milhões, ou seja, mais de 95% devem ser exportadas, especialmente para os Estados Unidos e Europa.
Nesse cenário, sobram apenas 600 mil sacas do produto local para atender uma demanda doméstica superior a 2 milhões de sacas. Do déficit de 1,4 milhão de sacas existente no mercado interno colombiano, quase 900 mil foram supridas com café brasileiro apenas até setembro deste ano.
O diretor de Pesquisa Econômica da Federação dos Cafeicultores da Colômbia (FNC), José Leibovich Goldenberg, disse à Bloomberg Línea que o café é um produto importado livremente há anos na Colômbia graças à abertura econômica. E diz que “o que tem acontecido historicamente é que o grosso da produção de café na Colômbia se destina ao mercado internacional porque é um produto altamente desejado” e, portanto, tem um prêmio que tem ficado acima de US$ 50 centavos na Bolsa de Valores de York.
Ele acrescentou que “se na Colômbia estivéssemos dispostos a pagar os preços que o consumidor paga nos Estados Unidos, na Alemanha ou no Japão por um quilo de café colombiano, não haveria necessidade de importar”, já que a produção interna cobriria as exportações e o mercado interno”.
“Mas acontece que boa parte do nosso consumo não está em capacidade porque a população não tem aquela renda ou a tradição de pagar tanto por aquele café que vai beber e esse é o resultado, que a gente acaba pagando em média pelo café que consumimos a um preço claramente menor e por isso uma parte da matéria-prima vem do exterior, que é de qualidade inferior”, disse.
Relação Brasil x Colômbia
A Colômbia tem se tornado um importante destino das exportações de café do Brasil. Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Itália e Japão foram o TOP 5 dos maiores clientes do café brasileiro. Na sequência aparecem Rússia, Colômbia, México, Espanha e Turquia.
Considerando apenas os dados de exportação de janeiro a setembro, o Brasil embarcou para Colômbia neste ano 886,2 mil sacas, o que já representa um crescimento de 20% sobre as vendas totais do ano passado. Em apenas cinco anos, a Colômbia aumentou em quase 50% o volume de café importado do Brasil. Em 2016, foram apenas 18,2 mil sacas.
Fernando Morales-de la Cruz, fundador do Café For Change, disse à Bloomberg Line que “é inconsistente que a Colômbia – o terceiro maior exportador de café do mundo – importe quase um milhão de sacas de café anualmente para satisfazer metade de seu consumo doméstico”. “Alguns dos principais importadores de café da Colômbia são Colcafé, Nescafé / Nestlé, Lucafé, entre outros. Um percentual significativo do café importado é liofilizado, até mesmo pela Federação Nacional dos Cafeicultores”, comentou.
Leibovich Goldenberg explica que o Brasil “claramente” tem sido uma importante fonte de importação de café, embora seja de “qualidade inferior ao café colombiano”. Esse grão brasileiro, explica ele, é usado principalmente para fazer blends de café solúvel ou torrado e moído. Os tipos que o país exporta são o café robusta e o arábica, muitos dos quais não são lavados.
Existe café 100% colombiano na Colômbia?
Questionado sobre o café 100% colombiano, o executivo mencionou que hoje está disponível nas principais redes, mas seu preço é bem mais alto. Enquanto meio quilo de café abaixo do padrão custa entre 8 mil e 10 mil pesos colombianos (R$ 12 a R$ 15), os cafés colombianos de marca podem valer entre 30 mil e 40 mil pesos (R$ 44 a R$ 59).
Esses cafés de qualidade inferior podem muito bem ser feitos 100% com “pasilla”, que são grãos de má qualidade que ocorrem em qualquer safra, grãos importados ou uma mistura dos dois, o que “não é tão fácil saber, pois não é mencionado no rótulo de café”, diferentemente daqueles “que são sofisticados dizem que são 100% colombianos”.