Sob comando de Putin, mídia russa gastou mais de US$ 146 milhões em campanhas pró-Kremlin
Site investigativo diz que ação, cujo gasto chega a US$ 146 milhões, espalha desinformação sobre vacinas e tenta influenciar em corridas eleitorais
Relatório do site investigativo OpenSecrets sobre os novos registros da Lei de Agentes Estrangeiros dos Estados Unidos (Fara, da sigla em inglês) aponta que a mídia russa gastou mais de US$ 146 milhões em operações de influência estrangeira e propaganda desde 2016, sendo mais de US$ 16 milhões somente em 2021. O valor representa apenas os gastos revelados ao Departamento de Justiça dos EUA pelos agentes estrangeiros russos.
O governo norte-americano identificou diversos sites dirigidos por serviços de inteligência russo e não divulgados através da Fara que espalham desinformação para desacreditar a eficácia das vacinas contra a Covid-19 produzidas fora da Rússia. Tais plataformas de mídia social se tornaram um terreno fértil para o surgimento de mais campanhas de propaganda russas, que muitas vezes não são divulgadas nos arquivos.
A injeção de dinheiro também ocorreu nas duas últimas eleições dos EUA. No pleito de 2016, o governo russo interferiu para impulsionar o ex-presidente Donald Trump. Em 2020, o Kremlin despejou dinheiro em canais de TV e mídia com o objetivo de influenciar os eleitores enquanto as tensões aumentavam entre os dois países. Os maiores consumidores de mídia da Rússia incluem as agências RIA Novosti e Rossiya Segodnya, entidades governamentais que administram transmissões globais de duas redes de mídia financiadas pelo Estado russo, a RT e a Sputnik.
Segundo o levantamento, os gastos do governo russo com propaganda rivalizam com os da China, que gastou mais do que qualquer outro país do mundo em 2020. Os agentes estrangeiros chineses relataram cerca de US$ 67,2 milhões em gastos totais com lobby e influência no ano passado. Mais de 80% dos gastos com influência estrangeira da China nos EUA vieram da mídia estatal chinesa CGTN TV e do jornal em inglês do Partido Comunista Chinês (PCC), China Daily.
Como o aparato de mídia estatal da Rússia, muitos dos veículos estatais da China também foram obrigados a se registrar no Fara.
Contraste de leis
Embora a lei russa sobre agentes estrangeiros e a Fara usem terminologia semelhante, são diferentes. Segundo o site Share America, a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros dos EUA simplesmente exige que indivíduos e organizações divulguem seu trabalho em nome de uma entidade estrangeira. Já na Rússia, o termo “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e carimba o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior.
De acordo com a legislação russa, qualquer pessoa que receba fundos do exterior pode ser designada como “agente estrangeira”, mesmo que não esteja agindo sob a direção de uma entidade estrangeira. Quase todas as organizações de direitos humanos respeitáveis na Rússia e muitos meios de comunicação independentes têm sido forçados a se registrar nos termos da Lei de “Agentes Estrangeiros” da Rússia.
Em contraste, o registro Fara dos EUA é composto quase inteiramente por firmas de advocacia e relações públicas contratadas por entidades estrangeiras a fim de fazer lobby junto ao governo dos EUA. Aqueles que não recebem ordens de uma parte estrangeira não precisam se registrar.
Meios de comunicação que terceirizam decisões editoriais para governos estrangeiros ainda podem operar livremente nos Estados Unidos.
Repressão em expansão
Abrangente, a lei de agentes estrangeiros da Rússia segue em expansão. As modificações de dezembro de 2020 permitiram ao Kremlin impor restrições a jornalistas estrangeiros e outros indivíduos que considera “inimigos do Estado”, abrindo a porta para que o governo russo adicionasse vários profissionais da imprensa e meios de comunicação à lista.
A lista da mídia aumentou para 85 agentes estrangeiros, incluindo associados da Radio Free Europe (RFE) e Voice of America (VOA), financiada pelo governo dos Estados Unidos. Já o site de notícias investigativas Bellingcat e nove jornalistas ligados a diversos meios de comunicação foram adicionados à lista em 8 de outubro, horas depois do anúncio do prêmio Nobel da Paz dado a Dmitry Muratov, editor do do jornal independente Novaya Gazeta. O jornalista foi premiado por “defender a liberdade de expressão sob condições cada vez mais desafiadoras”.