ONG que monitora prisões políticas no país diz que 4,3 mil manifestantes foram detidos. Total de presos desde o início do conflito já chega a dez mil
Cerca de 4,3 mil manifestantes foram presos no domingo (6) durante protestos que ocorreram em diversas partes da Rússia em repúdio ao conflito na Ucrânia, informou a ONG OVD-Info, que monitora os atos. As informações são da agência catari Al Jazeera.
Vídeos compartilhados nas redes sociais de ativistas de oposição mostraram as mensagens levadas às ruas e endereçadas ao presidente Vladimir Putin. “Não à guerra!”, gritava a multidão. “Que vergonha!”, mostravam cartazes erguidos.
Alguns atos foram marcados pela violência policial. Na cidade de Yekaterinburg, as imagens de um manifestante sendo espancado no chão foram disseminadas pelo país.
Há discrepância em relação aos números apurados pela OVD-Info e o governo russo sobre o total de russos levados sob custódia. A ONG alega ter documentado a prisão de 4.366 pessoas, em 56 cidades diferentes. O Ministério do Interior afirma que a estatística oficial é de aproximadamente 3,5 mil detidos, sendo 1,7 mil em Moscou, 750 em São Petersburgo e 1.061 em outras cidades. Segundo o órgão governamental, 5,2 mil pessoas participaram dos protestos.
Após os protestos do fim de semana, o número de prisões registradas durante atos contrários à ofensiva russa no país vizinho subiu para mais de 10 mil, contabiliza a OVD-Info.
“Os parafusos estão sendo totalmente apertados. Estamos testemunhando a censura militar”, disse a porta-voz da ONG Maria Kuznetsova à agência de notícias Reuters, acrescentando que há grandes protestos em curso no país, inclusive em cidades na Sibéria.
Principal opositor do Kremlin, da prisão, Alexey Navalny foi responsável por convocar os protestos de domingo em todo o território russo, bem como instou o resto do mundo a fazer o mesmo. Ele não poupou críticas à postura beligerante do rival político Putin.
“Por causa de Putin, a Rússia agora significa guerra para muitas pessoas”, disse Navalny na sexta-feira (4) em post publicado pela equipe do oposicionista em suas redes sociais. “Isso não está certo. Foi Putin e não a Rússia que atacou a Ucrânia”, ponderou.
Popularidade em alta
Segundo mostraram pesquisas sediadas em Moscou e organizadas pelo governo, os índices de aprovação de Putin saltaram desde a invasão, iniciada no dia 24 de fevereiro.
A avaliação do líder russo subiu 6 pontos percentuais, alcançando 70%, apontou a pesquisa estatal da VsTIOM (Centro de Pesquisa de Opinião Pública Russa). Já o FOM (Fundação de Opinião Pública), também controlado pelo Estado e responsável por pesquisas para o Kremlin, disse que a avaliação de Putin subiu 7 pontos percentuais, indo para 71% na mesma semana.
Por que isso importa?
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.
O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.
Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.
Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.
De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.