A subsidiária usará fundos da Marinha Mercante para o setor de construção naval.
A Transpetro, subsidiária de logística da Petrobras, retomará a construção de navios próprios em estaleiros brasileiros. A declaração foi dada na última quinta-feira (4), pelo novo presidente da empresa, Sérgio Bacci. Estudos já estão em andamento com foco nesta direção. A nova gestão da empresa afirma que um grupo de trabalho foi desenvolvido para analisar as chances de trabalho a ser realizado ao longo dos próximos dois meses, levantando informações para tirar os projetos de construção naval do papel.
Construção de navios impactará diretamente no valor do afretamento
Atualmente, não há nenhum navio sendo construído que foi encomendado pela Transpetro. Bacci ressalta que a empresa não será privatizada e a retomada no setor de construção é uma bandeira do atual governo e que já esteve reunido com Jean Paul-Prates, presidente da Petrobras, para discutir sobre o programa.
O executivo da Transpetro ainda afirma que o programa de construção de navios contará com o Fundo da Marinha Mercante e se aliará em discussões com BNDES e Petrobras sobre projetos que podem ser construídos futuramente.
Caso a Transpetro volte com a construção naval no Brasil para suprir as demandas da Petrobras, a mesma impactará diretamente no valor do afretamento. Quanto mais demanda a empresa conseguir de navios de bandeira brasileira, estará interferindo diretamente no valor dos afretamentos. Acho que é um motivo econômico muito razoável para a gente construir.
Atualmente, a Transpetro possui 26 navios de cabotagem de longo curso. Estes foram desenvolvidos dentro do Programa de Modernização e Expansão da Frota desenvolvidos dentro do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef). Além disso, há outros 10 navios aliviadores que são afretados. A última embarcação entregue à empresa por meio deste programa aconteceu em 2019.
Como o Promef atuava quando foi lançado?
O novo presidente afirma que o plano de retomada da construção naval não significará, entretanto, a reedição do Promef, das primeiras gestões do PT. Lançado no primeiro governo Lula, o Promef previa a construção de 49 navios, com investimentos chegando a R$ 11,2 bilhões. Entretanto, foram entregues apenas 26 unidades.
Houveram diversos atrasos, descumprimento de prazos, cancelamentos e aumento de custos, além de denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente da Transpetro, responsável por conduzir o programa e o ex-senador Sérgio Machado, que fez acordo de delação premiada.
O novo presidente não informou quantos navios a empresa planeja adquirir, mas afirma que a construção de navios não será feita a qualquer preço. Ele concedeu ontem a primeira entrevista após assumir a Transpetro. Afirmou ainda que abriu conversas com o Governo federal para incluir novos navios na lista de projetos prioritários que está sendo criada.
Estaleiros são outro elo frágil no Brasil
Bacci ressalta que o Brasil tem pressa e é necessário gerar empregos no Brasil, entretanto o Promef não será reeditado. Quando a Transpetro foi criada, em 1998, possuía 57 navios, que foram sendo desativados com o passar dos anos.
Como citado antes, o executivo, que ocupou o cargo no Ministério dos Transportes no primeiro governo Lula e em seguida fez parte da entidade de classe dos estaleiros, o Sinaval, afirmou que as novas embarcações serão financiadas pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM), que é constituído com a cobrança de taxas sobre os fretes de importação.
Os estaleiros foram outro ponto fraco na primeira tentativa de reerguer o setor de construção naval no Brasil, a partir de 2003. Os estaleiros novos, que contavam com grupos de sócios denunciados no Lava-Jato, quebraram e uma fragilidade no setor de construção em terra, que atende a indústria de petróleo e gás, é depender de um único cliente, a Petrobras.