Índice de preços do país está acima de 108% em 12 meses, no maior nível em mais de 30 anos.
O Banco Central da Argentina elevou a taxa de juros de 91% para 97% nesta segunda-feira (15). Esta é a primeira medida de um pacote anunciado pelo governo do país para combater a inflação, que está acima de 108% no acumulado em 12 meses, maior patamar em mais de 30 anos.
O objetivo da alta nos juros é ter “retornos reais positivos sobre os investimentos em moeda local [rumo à rentabilidade] e atuar imediatamente para evitar que a volatilidade financeira aja como um motor das expectativas de inflação”, afirmou o BC argentino em comunicado oficial.
A decisão da autoridade monetária representa uma alta de 600 pontos na taxa de referência de juros. O objetivo da decisão – anunciada em um contexto econômico tenso, com eleições presidenciais marcadas para outubro – é conter o avanço dos preços, que aceleraram mais uma vez em abril.
O ministro da Economia, Sergio Massa, ainda não detalhou todas as medidas previstas pelo governo argentino para o combate à hiperinflação. A previsão é que o programa inclua estímulos ao consumo e à importação de alimentos.
Massa é um dos cotados para se candidatar a presidente do país pelo partido peronista.
De acordo com a imprensa argentina, haverá uma abertura de importações em setores sensíveis, como alimentos frescos e têxteis, além de um controle maior de preços no comércio, juntamente com um reforço dos subsídios sociais, em um país onde a taxa de pobreza chegou a 39,2% no fim de 2022.
“São medidas para combater a inflação sem parar a atividade econômica, uma tarefa muito difícil. Continua tudo igual“, resumiu à AFP Pablo Tigani, diretor da consultoria Hacer.
Relação com o dólar
O governo do presidente Alberto Fernández e o Banco Central da Argentina desejam que as taxas sejam atraentes para desencorajar a forte demanda por dólares. No país, a moeda norte-americana se tornou um refúgio contra a hiperinflação.
“A ideia é evitar o atraso cambial e aumentar a taxa de juros para que não haja tantos pesos no mercado a ponto de irem para o dólar“, disse Tigani, explicando a pressão do excesso de pesos sobre a moeda americana no contexto inflação elevada.
Na Argentina, regem restrições à compra de divisas cujo efeito é incentivar o mercado ilegal, onde o peso é negociado a quase o dobro da cotação oficial de 238,50 pesos por dólar (cerca de 47 pesos por real na cotação atual).
O aumento do valor do dólar no mercado paralelo se reflete em remarcações de preços, por ser a moeda norte-americana uma âncora de referência e um termômetro das expectativas do consumidor.
Seca e encolhimento das reservas
O país sul-americano enfrenta também a pior seca da história, que afetou sua maior fonte de receita, o setor agroexportador.
Desde janeiro, a Argentina perdeu mais de US$ 5,5 bilhões (R$ 27 bilhões) de suas reservas internacionais, que se encontram em US$ 33,58 bilhões (R$ 164 bilhões), informou o Banco Central. As reservas líquidas, no entanto, estariam bem abaixo deste número, segundo economistas.