Militares dos EUA não se envolverão diretamente em combate. A missão deles é treinar, aconselhar e fornecer equipamento
O presidente dos EUA, Joe Biden, decidiu reenviar até 500 soldados de suas forças armadas à Somália, onde ajudarão o governo local a combater o Al-Shabaab, grupo extremista islâmico ligado à Al-Qaeda. As informações são da agência Reuters.
O anúncio do governo, feito na segunda-feira (16), reposicionará parcialmente tropas que deixaram a Somália durante o mandato do ex-presidente Donald Trump. Naquela ocasião, eram cerca de 700 norte-americanos dando apoio ao país africano.
“Este é um reposicionamento de forças que viajaram para dentro e para fora da Somália em uma base episódica”, disse a secretária de imprensa da Casa Branca Karine Jean-Pierre.
Um funcionário do governo norte-americano, que pediu para ser mantido no anonimato, disse que a ordem de Biden atende a um pedido do secretário de Defesa Lloyd Austin para “permitir uma luta mais eficaz contra o Al-Shabaab”.
Os militares dos EUA viajarão ao país africano não com a missão de se envolver diretamente em combate, e sim de treinar, aconselhar e fornecer equipamentos às forças de segurança somalis. O número exato de combatentes a serem enviados não foi anunciado. Outro funcionário do governo disse apenas que serão menos de 500.
“É uma boa notícia ter tropas dos EUA no terreno, e os esforços de contraterrorismo podem ser reiniciados”, disse o coronel Ahmed Sheikh, ex-comandante da unidade de elite das Forças Especiais Danab da Somália, que foi treinada por tropas dos EUA. “Este será um grande impulso para o novo presidente. Ele tem uma grande tarefa pela frente”, acrescentou.
Processo eleitoral
A Somália vive um momento de forte turbulência que levou ao adiamento das eleições parlamentares agendadas originalmente para novembro de 2021. O pleito foi finalmente realizado no último domingo (15), com vitória do ex-presidente Hassan Sheikh Mohamud.
Nesse período de indefinição política, o Al-Shabaab intensificou as ações terroristas, parte de sua missão principal que é destituir o governo central e impor no país sua visão radical da lei Islâmica.
Em meio aos recentes confrontos entre as forças de segurança e os jihadistas, o governo da Somália anunciou em meados de março que cerca de 200 combatentes do Al-Shabaab morreram durante uma operação militar realizada na região central do país.
De acordo com os militares somalis, a operação contou com apoio aéreo das forças armadas dos EUA, que teriam usado um drone para bombardear um reduto de extremistas no vilarejo de Hareri Gubadle, região de Galgaduud, a cerca de 300 quilômetros da capital Mogadíscio.
Por que isso importa?
O Al-Shabbab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro do país. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Dados apontam que os extremistas estiveram em mais de 400 episódios violentos no país entre julho e setembro do ano passado – o maior número desde 2018.
O confronto, porém, atualmente pende para o lado do exército. O objetivo dos militares é reconquistar territórios vitais para a economia do país, numa ofensiva comandada pelo general Odowaa Yusuf Rageh. Em determinadas missões, ele faz questão de liderar pessoalmente os militares.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”.