quinta-feira, 13-março-2025
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Caso contra Moraes tem sigilo, troca de juíza e ‘inspiração’ da Casa Branca

A ação da plataforma Rumble e da Trump Media contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, nos EUA, foi colocada sob sigilo, impedindo que a transcrição das audiências seja divulgada. O caso ainda revela uma coincidência de argumentos usados tanto nos documentos judiciais como no discurso adotado pelo governo americano.

processo contra Moraes foi apresentado dia 18 de fevereiro em uma corte em Tampa, na Flórida, no mesmo dia em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alvo de uma denúncia pela Procuradoria-Geral da República, sob a acusação de ter feito parte de uma organização criminosa que tinha como objetivo promover um golpe de Estado no Brasil.

Omitindo o fato de que não tinham representantes legais no Brasil, como exige a lei, as empresas americanas foram à Justiça acusando Moraes de promover censura.

Inicialmente, o caso foi atribuído à juíza Charlene Edwards Honeywell, nomeada por Obama em 2009, que decidiria sobre a base legal do processo contra Moraes. No entanto, em 24 de fevereiro, o caso foi transferido para a juíza Mary Scriven, de ranking inferior na corte, nomeada por George W. Bush.

Foi apurado que a decisão de transferir o caso foi da própria juíza Honeywell que, por ter uma posição sênior, tem esse direito. O motivo, porém, não foi revelado.

No dia seguinte à transferência do caso, uma audiência sigilosa foi realizada, e a nova juíza rejeitou a liminar solicitada pelas empresas, alegando que as medidas de Moraes não tinham sido implementadas. Ela permitiu que o processo fosse mantido, mesmo citando o fato de que a denúncia mostrava falhas e falta de documentação.

O executivo-chefe da Trump Media, Devin Nunes, e o Rumble qualificaram a decisão de “uma grande vitória para a liberdade de expressão”, com “forte mensagem aos governos estrangeiros de que eles não podem contornar a lei dos EUA para impor censura”.

Sigilo em audiência e transcrição

A audiência e sua transcrição foram colocadas sob sigilo por tempo indeterminado. A corte em Tampa justificou  a decisão por se tratar de um caso “ex parte”, no qual a sentença não precisava aguardar resposta de Moraes. Normalmente, o sigilo só é permitido para proteger investigações, testemunhas ou a segurança nacional.

No processo contra Moraes, empresas americanas criticam justamente o que chamam de “decisões sigilosas” do ministro, alegando que ele impõe censura a usuários politicamente expressivos sob ameaça de multas ou fechamento de sites. No entanto, as empresas não mencionaram o sigilo da corte americana em seus comunicados.

Argumentos semelhantes

Apesar de a audiência ter sido colocada sob sigilo, a denúncia é pública e revela similaridade com os argumentos que o governo Trump usa contra o Brasil. Dias depois do caso ser apresentado à corte na Flórida, o Departamento de Estado norte-americano publicou nas redes sociais o seguinte texto:

“O respeito à soberania é uma via de mão dupla com todos os parceiros dos EUA, incluindo o Brasil. Bloquear o acesso à informação e impor multas a empresas sediadas nos EUA por se recusarem a censurar indivíduos que lá vivem é incompatível com os valores democráticos, incluindo a liberdade de expressão”, diz a nota da diplomacia americana. Horas depois, o Itamaraty rebateu as críticas e alertou que a declaração atua para “distorcer o sentido” de decisões do STF.

Chamou a atenção o fato de o texto do Departamento de Estado ter usado as mesmas palavras e argumentos dos advogados do caso. Num dos trechos, os advogados das empresas dizem:

“Suas observações [de Moraes] enfatizaram a incompatibilidade da verdadeira governança democrática com práticas que suprimem a dissidência, restringem a expressão legal ou penalizam os pontos de vista da oposição.”

Outros pontos da denúncia ainda reforçam a ideia de soberania, também contida no texto do Departamento de Estado.

Ao explicar a existência de mecanismos de colaboração entre o Brasil e os EUA, os advogados afirmam que “esse processo foi projetado especificamente para defender os princípios de soberania e cortesia, exigindo que cada nação avalie se a solicitação está alinhada com os princípios de liberdade de expressão”.

Repetindo o argumento do Departamento de Estado, o texto ainda destaca como supostamente Moraes “ignorou totalmente essas salvaguardas, optando, em vez disso, por uma abordagem unilateral que impôs sua vontade a uma empresa dos EUA sem levar em conta os processos legais ou a soberania adequados”.

“Tal conduta não apenas desconsidera a soberania dos Estados Unidos, mas também estabelece um precedente perigoso”, afirmaram.

O argumento da imposição de multa, destacado pelo Departamento de Estado, uma vez mais encontra seu similar no processo em Tampa.

“Por meio de processos sigilosos, multas punitivas e alegações vagas de ‘discurso antidemocrático’, o juiz Moraes está tentando impor censura extraterritorial às empresas Rumble e Truth Social, sediadas nos EUA”, destacam.

Investimento do vice dos EUA no Rumble

Na petição original, os advogados ainda citam um recente discurso do vice-presidente dos EUA, JD Vance, contra a suposta censura adotada pelos europeus.

Segundo reportagem do jornal The Guardian, a empresa de Vance, Narya Capital, é um dos dez maiores investidores na Rumble. “Sua compra inicial de 7 milhões de ações em 2022 lhe deu um assento no conselho. De acordo com sua declaração de divulgação, Vance investiu um total de entre US$ 115 mil e US$ 200 mil na empresa”, afirmou.

O jornal ainda apontou como o Rumble “ganhou destaque como um paraíso para usuários de direita e com mentalidade conspiratória durante 2020, quando plataformas mais tradicionais estavam reprimindo aqueles que promoviam falsidades sobre a covid-19, a eleição de 2020 ou elaboravam narrativas de conspiração de extrema direita, como o QAnon”.

Crise com Judiciário

O caso ainda acontece num momento em que o governo Trump enfrenta acusações de interferência no Judiciário.

Em fevereiro, o Departamento de Justiça dos EUA arquivou denúncias contra o prefeito de Nova York, Eric Adams, alegando que o processo dificultava sua gestão, especialmente em medidas contra a imigração. Como protesto, a procuradora Danielle Sassoon renunciou, acusando o governo de um acordo com Adams, seguida por cinco outros funcionários.

O vice-procurador-geral, Emil Bove, afirmou que Sassoon desobedeceu ordens presidenciais. Trump negou ter interferido. Além disso, o governo declarou ao Congresso ter poder para demitir juízes administrativos sem justificativa, desafiando leis de proteção judicial.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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