França acelera envio de tropas à Romênia, membro da Otan. Alemanha faz planos para aumentar o orçamento militar
Embora tenham deixado claro que não vão interferir militarmente em favor da Ucrânia após o ataque da Russia, as nações da Europa Ocidental já começaram a se mobilizar para fortalecer as próprias fronteiras e proteger também os Estados-Membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na porção leste do continente.
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou nesta sexta-feira (26) que o país acelerou o enviou de tropas à Romênia, a fim de fortalecer a fronteira leste da Otan, de acordo com o site The Defense Post. A mobilização militar francesa é parte do plano de defesa colocado em prática pela aliança. A estratégia foi desenhada justamente após a anexação da Crimea pela Rússia, em 2014, e agora está ativa.
A mobilização militar da aliança incluirá elementos da força de reação rápida, que conta com 40 mil soldados, e uma unidade altamente preparada de sete mil combatentes, a maioria deles franceses, além de uma ala aérea igualmente sob comando francês.
Nesse sentido, o governo dos Estados Unidos também se movimentou, devido à liderança do país na Otan. Na quinta-feira (24), Washington anunciou que enviaria sete mil tropas à Alemanha, de acordo com um funcionário estatal ouvido pela agência Reuters em condição de anonimato. O contingente, composto por uma brigada blindada de combate, parte para a Europa nos próximos dias.
A Alemanha, que receberá o reforço militar norte-americano, parece disposta a tomar a atitude mais drástica, com o aumento de seu orçamento de defesa. O ministro das Finanças, Christian Lindner, disse que é hora de um “ponto de virada” no investimento militar do país, há muito tempo alvo de críticas por parte de seus aliados ocidentais.
“Eu me preocupo que tenhamos negligenciado tanto as forças armadas no passado que elas não podem cumprir completamente seus deveres”, disse ele à televisão pública local. “A redução dos gastos com defesa não se encaixa mais nos novos tempos”.
Annegret Kramp-Karrenbauer, que foi ministra da Defesa no governo de Angela Merkel, usou sua conta no Twitter para contestar o despreparo militar do país. “Estou com tanta raiva de nós mesmos por nosso fracasso histórico. Depois da Geórgia, da Crimeia e de Donbass, não preparamos nada que pudesse realmente dissuadir Putin“, disse ela.
Nos últimos anos, o sucateamento das forças armadas alemãs foi criticado por funcionários do setor de Defesa, com jatos, tanques, helicópteros e navios parados por mau funcionamento. No final de 2017, todos os submarinos do país estavam em doca seca para reparos; no ano seguinte, nenhum dos aviões de transporte A400M da força aérea estava em condições de voar, segundo o The Defense Post.
De acordo com a comissária das forças armadas do Bundestag (o parlamento alemão), Eva Hoegl, chegou o momento de as forças armadas da Alemanha mudarem de foco, deixando de priorizar as missões estrangeiras para focar na “defesa doméstica e aliada”, em referência à Otan.
Por que isso importa?
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho na quinta-feira (24), remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.
O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de quinta (24), de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.
Para André Luís Woloszyn, analista de assuntos estratégicos, os primeiros movimentos no campo de batalha sugerem um conflito curto. “Não há interesse em manter uma guerra prolongada”, disse o especialista, baseando seu argumento na estratégia adotada por Moscou. “Creio que a Rússia optou por uma espécie de blitzkrieg, com ataques direcionados às estruturas militares“, afirmou, referindo-se à tática de guerra relâmpago dos alemães na Segunda Guerra Mundial.
O que também tende a contribuir para um conflito de duração reduzida é a decisão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de não interferir militarmente. “Não creio em envolvimento de outras potências no conflito, o que poderia desencadear uma guerra mais ampla e com consequências imprevisíveis”, disse Woloszyn, que é diplomado pela Escola Superior de Guerra.