TPLF, partido político com braço armado que comanda a região separatista na Etiópia, diz que alvo do bombardeio foi uma “residência civil”
Um ataque aéreo empreendido pelas forças armadas da Etiópia atingiu na quinta-feira (28) a região de Tigré, palco de um confronto entre os militares e forças rebeldes separatistas que dominam a área há cerca de 30 anos. De acordo com Hayelom Kebede, médico que trabalha na região e foi ouvido pela agência catari al Jazeera, ao menos dez pessoas morreram e 21 ficaram feridas.
O governo etíope confirmou a ação, parte de uma campanha aérea que tem sido realizada pelo exército na região. Segundo fontes oficiais, o alvo seria uma fábrica da capital regional Mekelle, que vinha sendo usado pelo braço armado da TPLF (Frente da Libertação do Povo Tigré), partido político que lidera a luta pela independência da região e que o governo trata como grupo terrorista.
Selamawit Kassa, porta-voz do governo etíope, diz que o ataque “destruiu a segunda parte da Engenharia Industrial Mesfin. A instalação foi usada pelo grupo terrorista TPLF para manter seu equipamento militar”
Kebede, porém, alega que o bombardeio atingiu também uma área residencial, fazendo vítimas entre os civis. “A contagem de mortos já chega a dez”, disse ele, deixando claro que o numero tende a aumentar, pois as condições são muitos ruins para tratar os feridos. A informação foi reforçada pela Agência de Comunicações de Tigré, ligada à TPLF.
Nahusenay Belay, porta-voz do grupo rebelde, foi além. Ele desmentiu as informações divulgadas pelo governo de que o ataque teria atingido um refúgio de combatentes. Segundo ele, o único alvo foi uma “residência civil”, e três crianças estão entre os mortos.
Questionado sobre as acusações, outro porta-voz do governo, Legesse Tulu, reforçou a posição oficial do Estado, em entrevista à agência Reuters: “Não há nenhum dano intencional e deliberado aos civis e suas propriedades. O ataque aéreo atingiu seu alvo com sucesso”.
Ataques frequentes
Os bombardeios realizados por aeronaves militares têm aumentado na região de Tigré. Devido ao corte das comunicações por lá e da impossibilidade de acesso dos jornalistas, as informações que chegam ficam quase sempre restritas àquelas fornecidas pelas partes envolvidas no conflito.
Enquanto o governo alega que os alvos têm sido exclusivamente militares, ou mesmo instalações que dão suporte à TPLF, os rebeldes afirmam que os bombardeios já atingiram uma clinica e uma fábrica, além de residências.
Por que isso importa?
A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado, às forças de segurança nacionais da Etiópia, amparadas pelo exército da vizinha Eritreia.
Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle, a capital regional.
Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da Eitreia, que apoia Addis Abeba, também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram inclusive às regiões vizinhas de Afar e Amhara, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.
Em meio à disputa entre rebeldes e governo, a região enfrenta uma campanha que gera fome e violência e já deteriorou as condições de vida de cinco milhões de civis.