A decolagem estava prevista para a noite de sexta-feira (pelo horário de Brasília)
Pela segunda vez, a Jaxa (Agência Espacial Japonesa) cancelou o lançamento da missão Slim, que pode fazer do país o quinto a pousar uma espaçonave em solo lunar, atrás da Índia, que comemorou o pouso da Chandrayaan-3 recentemente.
A missão Slim voará junto com um satélite astrofísico de raios-X, a bordo de um foguete H-IIA, da Mitsubishi Heavy Industries, partindo do Centro Espacial de Tanegashima, no Japão.
Será, de fato, a segunda chance de o país realizar uma alunissagem bem-sucedida. A primeira foi conduzida por uma empresa japonesa, ispace, com um módulo de pouso chamado Hakuto-R. Lançado em dezembro do ano passado, o modesto veículo realizou com sucesso todas as etapas do voo até a Lua, indo até lá por uma trajetória de baixa energia, que consumiu meses no espaço. Entretanto, nos últimos segundos antes de consumar o pouso, em abril deste ano, um conflito entre os sensores e o computador de bordo levou o combustível a se esgotar antes de a sonda tocar o solo, e ela se espatifou no chão em alta velocidade. Não fosse isso, seria o Japão o quarto país a pousar na Lua, não a Índia.
Agora, a missão é conduzida não por uma empresa, mas pela própria agência espacial japonesa. Slim é uma sigla para Smart Lander for Investigating Moon, ou Pousador Inteligente para Investigação da Lua. A palavra também brinca com o termo “slim”, magro em inglês, já que se trata de uma missão de pequeno porte: 590 kg ao todo, dos quais dois terços são combustível.
O acrônimo dá uma boa pista de seu principal objetivo: testar técnicas automatizadas para realizar um pouso de alta precisão na superfície lunar. É interessante destacar que todos esses pousos até hoje, seja na Lua, em Marte ou qualquer outro corpo celeste, têm baixa precisão. Ou seja, os gerentes conseguem escolher a região aproximada do pouso, que tem a forma de uma elipse desenhada sobre o solo, mas o local exato em que o veículo vai descer depende de fatores fora de controle.
A título de exemplo, a área de pouso designada para a Apollo 11, primeira alunissagem tripulada, em 1969, era uma elipse de 20 km por 5 km. A Apollo 12 fez uma demonstração impressionante de precisão ao ser pilotada por um astronauta para descer a apenas 163 metros da sonda não tripulada Surveyor 3, lançada anos antes pelos Estados Unidos.
A Slim pretende melhorar ainda mais esse número, com um veículo muito menor e sem depender de um piloto a bordo. Sua precisão esperada é de cem metros, o que viabilizaria a exploração de locais mais desafiadores e cientificamente interessantes, sem precisar se preocupar tanto com acidentes geográficos próximos que coloquem em risco a missão. O plano é que ele desça dentro da cratera Shioli, no Mare Nectaris, próximo ao equador lunar, na face que se mantém sempre voltada para a Terra. Isso, contudo, vai demorar.
Pegando uma trajetória de baixa energia (a exemplo da missão Hakuto-R da ispace), a sonda só deve entrar em órbita lunar três a quatro meses após o lançamento, e depois passará entre duas e quatro semanas girando ao redor da Lua antes de iniciar o procedimento de pouso. Será entre o final deste ano e o começo do próximo.
Na última semana, a primeira missão lunar da Rússia em 47 anos fracassou depois que a espaçonave perdeu o controle e colidiu com a Lua. A sonda caiu na superfície após um problema ocorrido durante uma manobra antes de seu pouso.
Originalmente planejado para outubro de 2021, o lançamento foi adiado por quase dois anos. A Agência Espacial Europeia planejava testar sua câmera de navegação Pilot-D conectando-a à sonda, mas rompeu seus laços com o projeto depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro do ano passado.
Se a Rússia falhou, a Índia voltou a criar um marco e se tornou o quarto país a pousar na Lua na quarta-feira (23), depois de Rússia (então União Soviética), Estados Unidos e China –que foi a primeira nação a pousar no lado mais distante do satélite, em 2019.
Na última quinta-feira (24), a missão indiana começou a inspecionar a superfície da Lua com um robô de exploração. Pragyan, “sabedoria” em sânscrito, saiu do módulo de pouso horas depois de a Índia concretizar um marco em seu ambicioso programa espacial de baixo custo, provocando grande euforia em todo o país. O robô de seis rodas, que funciona com energia solar, percorrerá a região pouco mapeada do satélite. Também transmitirá imagens e dados científicos durante as duas semanas de missão.