Roberto Cabrini acompanhou de perto os desdobramentos do caso Lázaro Barbosa, que teve seu desfecho na semana passada, após uma grande operação policial e 20 dias de fuga. O apresentador e jornalista passou mais de duas semanas em trabalho de campo, em Goiás, e foi o primeiro a noticiar pela Record a morte do “serial killer do DF”, como Lázaro ficou popularmente conhecido.
Em entrevista ao UOL, Cabrini contou momentos importantes dos bastidores. Ele afirma que, nos últimos cinco dias de cobertura, chegou a dormir somente uma hora por noite. O estado era de alerta constante. “Quando finalmente houve uma definição do caso, cheguei a dormir 15 horas seguidas pelo cansaço acumulado”, afirma.
Na segunda-feira do dia 28 de junho, pela manhã, Lázaro foi capturado e morto pela polícia, em Águas Lindas de Goiás (GO). Cabrini conseguiu a informação com suas fontes e entrou ao vivo pela Record para dar a notícia. Ele havia recebido uma mensagem extraoficial (o “off”, como se diz no meio jornalístico) e não teve dúvidas de que a saga havia chegado ao fim.
A mensagem da morte de Lázaro
“Consegui fontes entre os policiais, o que me permitiu ser o primeiro a informar a morte dele. Tão importante quanto ter contato com quem se relacionava com o Lázaro era ter fontes policiais. Os policiais estavam passando a seguinte mensagem naquele momento: ‘Alvo abatido’. E, logo depois, eu informei na TV, ao vivo. A informação oficial partiu da Secretaria do Estado de Goiás, cerca de uma hora depois.”
Cabrini passou aquele dia todo fazendo aparições ao vivo na emissora, entrevistando pessoas diversas que tinham relação com o caso. E chegou a ficar muito próximo ao corpo do criminoso no Hospital Bom Jesus de Águas Lindas.
“Fiquei a dois metros de onde estava o corpo. Eu vi e pude confirmar que era ele com as fotos”, diz. O jornalista afirma que optou, muitas vezes, por ignorar as informações oficiais. “Eram quase um relatório.” As pistas quentes acabavam vindo mesmo de policiais, que tiveram suas identidades preservadas.
“O grande desafio era fazer uma investigação independente e que não ficasse limitada às apurações da polícia. Sempre com o olho no peixe e outro no gato.”
“Uma mente perturbada”
Cabrini realizou entrevistas com a mulher com quem Lázaro estava antes de morrer e com uma ex-mulher do criminoso. Ele também conversou com o caseiro Alain de Santana, que foi acusado de ajudar o criminoso na fuga.
Com as informações que colheu, o jornalista entendeu que estava diante de um perfil complexo: “Esse lado duplo que ele tinha chama muito a atenção. As mulheres o descreviam como uma pessoa respeitadora. Elas relatam que ele sempre foi um bom pai. Nas fazendas onde trabalhou, ele era tido como uma pessoa que cumpria com as obrigações, um cara que tinha múltiplas habilidades”.
Por outro lado, pelos crimes que cometeu, Lázaro revelava um lado sombrio. O jornalista também comenta as fugas, como quando ele se beneficiou de um indulto e não voltou mais ao presídio.
“Foi criada a imagem de um super-homem que nunca existiu. Ele nunca foi esse super-homem. Era uma mente perturbada. As vítimas eram encontradas despidas. É um cara que jamais poderia ter saído do sistema [penitenciário]. O sistema falhou com ele e permitiu privilégios a uma pessoa que jamais deveria tê-los tido.”
Mitos e rede de apoio
Boatos sobre relação com o satanismo e esconderijos no meio da mata ajudaram a criar uma atmosfera mística em torno de Lázaro, na opinião de Roberto Cabrini. Para ele, “as evidências apontam que poucas vezes ele dormiu ao relento”. E completa: “As pessoas vão acreditando em boatos. Na maior parte das vezes, ele dormiu abrigado. O deslocamento dele era facilitado por essa rede de apoio”.
Com a morte de Lázaro, muitas perguntas ficaram em aberto. O jornalista
acredita que as investigações policiais devem responder a algumas delas.
“É preciso definir a extensão dessa rede de apoio. Tudo reside em responder a essa pergunta. Quem eram as outras pessoas que participaram desses crimes? Quem ajudava ele a se deslocar?”
Fonte: Uol Notícias