Ação é uma consequência direta do rompimento de relações diplomáticas do governo Daniel Ortega com Taiwan, ocorrida no início de dezembro
O governo da Nicarágua assumiu o controle do prédio onde antes funcionava a embaixada de Taiwan e repassou o controle do edifício à China, que reivindica o controle da ilha autogovernada como se fosse parte do seu território. As informações são da agência Associated Press.
A ação é uma consequência direta do rompimento de relações diplomáticas do governo Daniel Ortega com Taiwan, ocorrida no início de dezembro, sob a alegação de que a Nicarágua passaria a reconhecer somente Beijing como governo legítimo da China.
Antes de deixar o edifício, o governo de Taiwan tentou doar a propriedade à Igreja Católica local. Então, Ortega alegou que qualquer doação seria irregular, vez que apenas Beijing tinha o direito a definir o destino do local.
“Existe uma só China”, disse o governo da Nicarágua no comunicado que anunciou a mudança. “A República Popular da China é o único governo legítimo que representa toda a China, e Taiwan é parte inalienável do território chinês”.
O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan condenou as “ações gravemente ilegais do regime de Ortega”, dizendo que o governo da Nicarágua violou o procedimento diplomático padrão ao conceder apenas duas semanas para que os diplomatas taiwaneses deixassem o país. A pasta também condenou “a obstrução arbitrária do governo da Nicarágua à venda simbólica de sua propriedade para a Igreja Católica da Nicarágua”.
Com o distanciamento da Nicarágua, restam apenas 14 países que reconhecem Taiwan como nação independente. As relações diplomáticas entre os dois governos haviam se estabelecido na década de 1990, quando a então presidente Violeta Chamorro derrotou o movimento sandinista nas eleições. Ortega manteve o vínculo quando reassumiu o poder, em 2007, e somente agora pendeu para o lado de Beijing.
Eleito para mais um mandato em novembro deste ano, Ortega teve a vitória contestada por Washington, maior aliado de Taiwan. “A prisão arbitrária de quase 40 figuras da oposição desde maio, incluindo sete candidatos presidenciais em potencial, e o bloqueio da participação dos partidos políticos fraudou o resultado bem antes do dia das eleições”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, à época do pleito.
Por que isso importa?
Relações exteriores que tratem Taiwan como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como território chinês.
Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, a China endureceu sua retórica contra as reivindicações de independência da ilha autônoma no ano passado, e as tensões geopolíticas escalam com rapidez na região.
Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan, enquanto Beijing deixou claro que não aceitará a independência do território “sem uma guerra”.
O embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho, de acordo com o site norte-americano Business Insider.
O documento, lançado pelo governo taiwanês no ano passado, pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala contra a ilha. “Uma invasão provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”, concordou o relatório do Pentágono.
Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os documentos reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação.