Justiça Militar julgou culpados oito dos 12 militares da ação por duplo homicídio contra o músico Evaldo Rosa e contra o catador de latinhas Luciano Macedo.
O tenente Ítalo da Silva Nunes recebeu a maior pena no julgamento das mortes do músico Evaldo Rosa e do catador Luciano Macedo em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, em 2019. A Justiça Militar o condenou a 31 anos e meio de prisão.
Sete dos seus 11 comandados foram condenados a 28 anos de prisão. Os outros quatro foram absolvidos. A sessão terminou na madrugada desta quinta-feira (14).
Os oito foram condenados por duplo homicídio doloso qualificado (com intenção de matar e sem chance de defesa das vítimas) e por tentativa de homicídio contra Sérgio Gonçalves, sogro de Evaldo.
Além de ser o oficial da equipe, o tenente Ítalo atirou mais vezes, como mostrou a perícia. Laudos apontaram pelo menos 650 vestígios de pólvora no oficial. Por isso, a pena dele foi maior.
O advogado André Perecmanis, assistente de acusação das famílias de Evaldo Rosa e Luciano Macedo, afirmou ao g1 que “certamente” Ítalo atirou primeiro. “Eles só atiram depois da ordem do superior ou da ação dele”, explicou.
Condenados
- Fabio Henrique Souza Braz da Silva, terceiro sargento, 23 anos;
- Gabriel Christian Honorato, soldado, 23 anos;
- Gabriel da Silva de Barros Lins, soldado, 23 anos;
- Italo da Silva Nunes, segundo tenente temporário, 27 anos;
- João Lucas da Costa Gonçalo, soldado, 23 anos;
- Leonardo Oliveira de Souza, cabo, 26 anos;
- Marlon Conceição da Silva, soldado, 23 anos;
- Matheus Sant’anna Claudino, soldado, 25 anos.
Absolvidos
- Leonardo Delfino Costa, soldado, 23 anos;
- Paulo Henrique Araújo Leite, cabo, 28 anos;
- Vitor Borges de Oliveira, soldado, 24 anos;
- Wilian Patrick Pinto Nascimento, soldado, 23 anos.
Todos os 12 serviam ao 1º Batalhão de Infantaria Motorizado-Escola.
Viúva de Evaldo, Luciana, bebe água para se acalmar antes de dar entrevista após o julgamento — Foto: Nicolás Satrian/g1
Ninguém vai para a cadeia ainda
Os oito condenados, no entanto, vão continuar em liberdade até que o caso transite em julgado — ou seja, que se esgotem todos os recursos.
“Essa condenação não é definitiva, não traz justiça aos autos. E a defesa, dentro do prazo legal, fará e apresentará o recurso para a instância superior, aguardando que ali se faça justiça isenta — longe dos apelos e longe da interferência externa”, afirmou o advogado Paulo Henrique Pinto de Melo.
‘Hoje vou conseguir dormir’, diz viúva
“Eles não têm noção de como estão trazendo uma paz para a minha alma. Eu sei que não vai trazer o meu esposo de volta, mas não seria justo eu sair daqui sem uma resposta positiva”, disse Luciana, viúva de Evaldo, após o julgamento.
“Hoje vou chegar em casa, vou tomar um banho e acho que hoje vou conseguir dormir.”
Relembre o caso
Evaldo teve o carro fuzilado no dia 7 de abril daquele ano e morreu no local. No total, 257 tiros foram disparados – 62 atingiram o veículo. Luciano tentou ajudar o músico e foi atingido. Ele morreu 11 dias depois, no hospital.
O julgamento na Justiça Militar, na Ilha do Governador, Zona Norte, durou mais de 15 horas: começou às 9h17 e terminou depois das 0h30.
Em votação, o conselho da Justiça Militar, composto por cinco magistrados – quatro deles militares –, considerou culpados oito réus por homicídio e tentativa de homicídio.
A princípio, o Ministério Público Militar (MPM) denunciou pelos crimes 12 militares, todos praças.
Mas o próprio MPM pediu a absolvição de quatro militares que não dispararam, alegação aceita pela Justiça Militar.
Durante as alegações finais da promotoria do Ministério Público Militar, a responsável pela denúncia criticou a versão dos agentes de que eles agiram em autodefesa.
A defesa pedia a absolvição dos militares alegando que houve um confronto e que a região era conflagrada.